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Para Uma Antropologia Situada: O Leal Conselheiro De Dom Duarte

Delineando-se como livro de ensaios, o Leal Conselheiro de D. Duarte posiciona-se como resultante de uma reflexão crítica sobre as vivências próprias e duma experiência pessoal do exercício do poder. Tem, por isso, o valor paradigmático de um testemunho. A redacção do texto em português corresponde...

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Bibliographic Details
Published in:Revista portuguesa de filosofia 1991-07, Vol.47 (3), p.425-441
Main Author: Pacheco, Maria Cândida Monteiro
Format: Article
Language:Portuguese
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Description
Summary:Delineando-se como livro de ensaios, o Leal Conselheiro de D. Duarte posiciona-se como resultante de uma reflexão crítica sobre as vivências próprias e duma experiência pessoal do exercício do poder. Tem, por isso, o valor paradigmático de um testemunho. A redacção do texto em português corresponde a um esforço de ajustamento da língua à formulação de conceitos abstractos. Parece traduzir, paralelamente, o dinamismo do posicionamento do rei que, assumindo plenamente o estatuto do governante delineado pela literatura ético-política da época, quer fornecer a uma sociedade em mutação paradigmas teóricos e práticos. Se a inspiração fundante, confirmada pelas fontes explícitas ou implícitas, reduz, ainda, os reflexos da mundividência medieval, a leitura crítica dessas fontes e a sua forma de acentuação, no relevo dado à experiência, indiciam também perspectivas renascentistas. O rei situa-se decididamente no campo da "moral filosofia", traçando linhas de conduta que, tendo embora a corte como referência mais clara, acabam por projectar-se universalmente. O núcleo fulcral das suas análises situa-se ao nível da pessoa humana, nas suas vertentes de sensibilidade, razão, vontade e entendimento. Poderá afirmar-se que não há abordagem especulativa sobre os fundamentos da posição ética do rei. Seguindo linhas tradicionais, assinale-se, no entanto, a relevância dada à vertente da lei natural, comum a todos os homens, sem distinção. Na perspectiva antropológica, D. Duarte parece inserir-se, prodominantemente, na linhagem aristotélico-tomista. Daí a afirmação clara da unidade do composto humano, o consciencializar da base fisiológica (temperamentos) na construção da pessoa, a impregnação racional de toda a acção e da virtude, a valorização da razão como orientadora da vontade e do agir, a amplitude do significado da prudência no quadro das virtudes morais. Alonga análise dos pecados e das virtudes subjaz uma fina análise psicológica, o toque da experiência vivencial, por vezes, uma visão quase sociológica, ao tentar captar o espírito dos povos, na sua diversidade. De toda a obra colhe-se o sentido de um humanismo sereno, no cruzamento do natural e do sobrenatural, e uma aplicação específica à maneira de ser do seu povo através do conceito da lealdade/prudência. /// En se proposant comme livre d'essais, le Leal Conselheiro de D.Duarte se présente comme le résultat d'une réflexion éthique sur les vécus propres et d'une expérience personnelle de l'exercice du pouvoir. Il a
ISSN:0870-5283
2183-461X